Catete: a poética do Museu da República
Poemas de Mário Chagas e Vânia Magalhães,
Salão de Banquetes
I
o banquete está servido
nas paredes
no teto
nas portas dos armários
e no vazio dos pratos
naturezas mortas
se precipitam
frutas peixes aves
e pequenos mamíferos
ocupam o vazio
diana! senhora cheia de graça
deusa da caça e de toda fartura
livrai-nos da fome e da miséria
estamos fartos de comida imaginária
II
a mesa
o aparador
o armário-cristaleira
os espelhos das fechaduras
e o relógio impertinente
são testemunhas de ceias
dispersas no tempo
do império à república
eles estavam lá
naquela última noite
viram e ouviram tudo
getúlio e seus ministros
momentos lentos
horas irrespiráveis
contradança do tempo
de caçador à caça
Quarto do Presidente
noite de agosto
as bruxas entram no palácio
crise e drama invadem o catete
a lua se estende na calçada
o corvo circula livre
espreita a janela do quarto
e oferece a saída
para um homem sem saída
- aceite o beijo da morte
- aceite a bala no peito e diga:
nunca mais
nunca mais
a saída a todos condena
a repetir para sempre:
nunca mais
nunca mais
Telefone do Presidente
o telefone
preto
tocou
tocou
até calar
a última conversa
ninguém soube
perdeu-se
no silêncio do tempo
Mario Chagas, museólogo, professor da UniRio e Vânia de Magalhães, historiadora, ambos poetas e funcionários do Museu da República, usaram a verve poética para exaltar recantos da instituição em que trabalham e que é um patrimônio do Catete e do Brasil.