Normasheila Carvalho é uma rolezeira que esbanja seu sorriso ao caminhar pelas ruas do Rio com o #RoléCarioca. Não é para menos: essa carioca de 65 anos nascida em Botafogo adora ver a cidade com um novo olhar e não perde nenhum rolé desde que começou a acompanhar os roteiros em 2014, como ela explica: “Todo dia você aprende mais um pouco sobre a cidade. Você passa a ver a cidade com um outro olhar. As pessoas passam pelos lugares e não sabem o que já aconteceu ali, o que tem ali. Não veem nada, não sabem de nada!”

Embora tenha formação em outra área (é técnica em enfermagem), Normasheila diz que sempre sentiu essa necessidade de saber um pouco mais sobre os lugares do Rio. Começou a caminhar com grupos para ampliar seus conhecimentos em outro projeto patrocinado pela Prefeitura do Rio, “Conhecendo o Rio a pé”, e também em passeios turísticos realizados por universidades. Há 3 anos e meio, está presente em todos os passeios do Rolé Carioca.

“Gostei muito do da Glória – já tinha conhecido a região com outros passeios, mas não foi igual a esse”, declarou a rolezeira, que já está organizando seu grupo para o próximo Rolé do dia 27 de agosto: “Não conheço Bangu e vou com certeza. Indo com um grupo, é mais fácil acessar o local. Indo sozinho, não tem graça, você acaba não indo.”

O que te atraiu no Rolé Carioca?
Gostei da dinâmica e me tornei rolezeira. Pra mim, é uma distração. Conheço novas pessoas, faço amizades. Hoje em dia, conheço várias pessoas pelo Rolé, moradores das adjacências. Alguns me ligam, sabem que estou antenada na agenda, onde vai ser o próximo... Marcamos de encontrar no ponto de encontro e caminhamos juntos.

Alguma coisa te chamou a atenção neste Rolé pelo SAARA?
A novidade para mim foram os pontos que a gente não tinha passado antes, no entorno da Praça da República: o Quartel dos Bombeiros e o antigo prédio da Casa da Moeda. Aquela reprodução da Escola Nacional das Belas Artes, próximo à Praça Tiradentes, foi novidade. Também não conhecia a gruta que é parte do projeto paisagístico do Campo de Santana. Ah, e hoje eu vi três pavões – antes só tinha visto um, rs.

Acrescentaria algo neste roteiro?
Acho tudo ótimo, de bom tamanho. Se acrescenta muita coisa, sai da memória.
 

Há quem hoje passe pela maior área verde do Centro do Rio e apenas vislumbre o paisagismo do Campo de Santana. Afinal, ali se perpetua uma verdadeira intervenção artística capaz de harmonizar o romantismo dos jardins ingleses e os elementos da escola francesa de Alphand.

No Campo de hoje, inaugurado em 7 de setembro de 1880, ainda estão as figueiras centenárias, as alamedas sinuosas acolhendo lagos, obras de arte cuidadosamente distribuídas e os monumentos de “Rocaille”, como as pontes e a charmosa Gruta Glaziou. Gruta aliás que, além de uma bela cascata e exposição interna de estalactites e estalagmites, leva o nome de seu criador: uma homenagem ao paisagista francês Auguste François-Marie Glaziou, que ao lado do brasileiro estudioso em jardinagem, Francisco José Fialho, executou este projeto com perfeição.

Além das cotias, cisnes e pavões, outros traços podem ser observados, bastando apenas fechar os olhos e abrir a janela do tempo, já que pelo Campo de Santana, pelo mesmo local onde hoje estão os gramados, se passou boa parte da história do Brasil. No início, era um pedacinho de manguezal chamado de Campo da Cidade por se localizar além da rua da Vala (hoje Uruguaiana), o limite da área urbana desta cidade fundada por Estácio de Sá, em 1565. E assim permaneceu até 1735, quando foi erguida nesta área uma capela em devoção a Santa Anna. O lugar, até então ocupado por negros fugitivos, soldados desertores, pessoas vadias e criminosos de todos os tipos começava a mudar através das grandes festas em devoção à Santa.

Com a vinda da família real para o Brasil, em 1808, o Campo de Santana se transformou em cenário de acontecimentos históricos e ali D. João VI foi aclamado Rei do Brasil, Portugal e Algarves. Foi sede das grandes festas da coroa. Ali também eram realizadas as cavalhadas, as touradas e os grandes casamentos de época. Não esquecendo de que ali surgiram os batuques de negros, num sincretismo religioso proporcionado pelas festas do Divino e de Sant’Ana. Um Campo que de Santana que passou a ser chamado de Aclamação porque ali D. Pedro I foi aclamado o primeiro imperador do Brasil. O mesmo palco que mais tarde acolheria as festas de D. Pedro II e a proclamação da República, em 1889.

É esse lugar cheio de história, beleza e natureza que queremos preservar, revitalizar e convidar cada um de vocês a visitar, passear, curtir. Desde março, a Fundação Parques e Jardins vem realizando um trabalho de revitalização do Campo de Santana. Mais segurança, mais verde, mais eventos culturais. Vem ver, vem conhecer, vem curtir o Campo de Santana, você também!

Gestor da Fundação Parques e Jardins, Aurélio Rocha atua na revitalização do Campo de Santana, área verde criada em 1880, que perdeu 20% do seu espaço para a abertura da Avenida Presidente Vargas. Atualmente, o campo é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)