Campo de Santana, uma janela diante da História
Artigo de Aurélio Rocha,
Há quem hoje passe pela maior área verde do Centro do Rio e apenas vislumbre o paisagismo do Campo de Santana. Afinal, ali se perpetua uma verdadeira intervenção artística capaz de harmonizar o romantismo dos jardins ingleses e os elementos da escola francesa de Alphand.
No Campo de hoje, inaugurado em 7 de setembro de 1880, ainda estão as figueiras centenárias, as alamedas sinuosas acolhendo lagos, obras de arte cuidadosamente distribuídas e os monumentos de “Rocaille”, como as pontes e a charmosa Gruta Glaziou. Gruta aliás que, além de uma bela cascata e exposição interna de estalactites e estalagmites, leva o nome de seu criador: uma homenagem ao paisagista francês Auguste François-Marie Glaziou, que ao lado do brasileiro estudioso em jardinagem, Francisco José Fialho, executou este projeto com perfeição.
Além das cotias, cisnes e pavões, outros traços podem ser observados, bastando apenas fechar os olhos e abrir a janela do tempo, já que pelo Campo de Santana, pelo mesmo local onde hoje estão os gramados, se passou boa parte da história do Brasil. No início, era um pedacinho de manguezal chamado de Campo da Cidade por se localizar além da rua da Vala (hoje Uruguaiana), o limite da área urbana desta cidade fundada por Estácio de Sá, em 1565. E assim permaneceu até 1735, quando foi erguida nesta área uma capela em devoção a Santa Anna. O lugar, até então ocupado por negros fugitivos, soldados desertores, pessoas vadias e criminosos de todos os tipos começava a mudar através das grandes festas em devoção à Santa.
Com a vinda da família real para o Brasil, em 1808, o Campo de Santana se transformou em cenário de acontecimentos históricos e ali D. João VI foi aclamado Rei do Brasil, Portugal e Algarves. Foi sede das grandes festas da coroa. Ali também eram realizadas as cavalhadas, as touradas e os grandes casamentos de época. Não esquecendo de que ali surgiram os batuques de negros, num sincretismo religioso proporcionado pelas festas do Divino e de Sant’Ana. Um Campo que de Santana que passou a ser chamado de Aclamação porque ali D. Pedro I foi aclamado o primeiro imperador do Brasil. O mesmo palco que mais tarde acolheria as festas de D. Pedro II e a proclamação da República, em 1889.
É esse lugar cheio de história, beleza e natureza que queremos preservar, revitalizar e convidar cada um de vocês a visitar, passear, curtir. Desde março, a Fundação Parques e Jardins vem realizando um trabalho de revitalização do Campo de Santana. Mais segurança, mais verde, mais eventos culturais. Vem ver, vem conhecer, vem curtir o Campo de Santana, você também!
Gestor da Fundação Parques e Jardins, Aurélio Rocha atua na revitalização do Campo de Santana, área verde criada em 1880, que perdeu 20% do seu espaço para a abertura da Avenida Presidente Vargas. Atualmente, o campo é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)