Historiadoras narram detalhes da vida da família imperial em Petrópolis
Por Rolé Carioca,
Os caminhos do #RoléCarioca, em setembro, nos levam a uma visita à ‘Cidade Imperial’ de Petrópolis, por ruas e lugares que remetem ao período monárquico brasileiro. Pensando nisso, selecionamos duas dicas de leitura com detalhes da vida pública e privada dos últimos protagonistas dessa história: D. Pedro II e a Princesa Isabel.
Em “As barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos” (1998), a historiadora Lilia Moritz Schwarcz dá um panorama da complexidade da imagem do último monarca do Brasil: poderoso manipulador político através do poder moderador, amante ativo porém discreto (ao contrário do pai), defensor da libertação dos escravos e do modelo escravocrata ao mesmo tempo. Misto de biografia e ensaio interpretativo, o livro tenta desvendar de que maneira se construiu e se consolidou, no imaginário nacional, a figura pública do imperador, tido até hoje como um homem sereno, ilustrado, amante das artes e do progresso.
No capítulo As residências de Pedro, o livro dedica-se à construção da cidade de Petrópolis. A autora compara como o soberano, a exemplo do Luís XVI, fizera de suas moradas um templo personificado da instituição monárquica da qual era o representante, relacionando a Versalhes do Rei Sol com a Petrópolis do Imperador brasileiro - a habitação preferida, ao mesmo tempo distante dos súditos. A obra não se limita a abordar o período em que D. Pedro 2º viveu (1825-1891). Estende-se até 1939, quando o então presidente da República, Getúlio Vargas, promoveu a cerimônia em que se sepultaram definitivamente os restos do monarca na catedral de Petrópolis.
As longas e detalhadas correspondências de Princesa Isabel e seu marido, Gastão de Orléans, o conde d’Eu, serviram de fonte para “O Castelo de Papel” (2013). A vida conjugal descrita por Mary del Priore revela-se pacata, de um casal que preferia passar seu tempo na calmaria bucólica de Petrópolis ao tumulto e ao jogo político da corte no Rio de Janeiro. Embora concentrado na vida privada dos personagens, "O Castelo de Papel" traz bastidores de passagens históricas do período, como a Guerra do Paraguai, os enfrentamentos com os militares e as disputas políticas entre os principais partidos que acabaram por expulsar a família imperial brasileira da vida nacional.
A narrativa biográfica focaliza correspondências escritas pela princesa que mostram sua dedicação à vida privada e a assuntos domésticos e religiosos que lhe eram muito caros. Como afirma a autora, Isabel “era o retrato acabado da noiva romântica do século XIX”. No entanto, em relação aos preparativos para a vida pública, desde criança ela recebeu uma educação diferenciada a fim de dirigir o governo constitucional de um Império. Enquanto muitas jovens de elite estudavam somente assuntos que lhe permitissem cumprir o papel de esposa do lar, Isabel aprendeu quinze matérias como política, filosofia, retórica, física, francês, história do Brasil, entre outras. O livro é uma oportunidade para desvendar a figura não tão popular do Conde D’Eu, “eminência parda” por trás da Princesa que a insuflou no momento chave da Abolição da Escravatura, apesar de constantemente serem colocados pelo Imperador à margem dos acontecimentos políticos.
As barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos
Autora: Lilia Moritz Schwarcz. Companhia das Letras, 1998. (664 pág)
Autora: Mary Del Priore, Rocco. 2013. (320 pág)