Praça Onze, berço das tradições circenses cariocas
Artigo de Junior Perim,
"Começamos nossa atividade no município do São Gonçalo. Quando o Crescer e Viver veio para o Rio de Janeiro, ocupamos uma área pública que não tinha, naquele tempo, nenhuma função social. O Crescer e Viver é um produto da invasão desse terreno público que por acaso estava nesse território. Não havia uma reflexão anterior sobre a Praça Onze, que é considerada berço da circulação das lonas de circos, dos circos itinerantes, especialmente do final do século XIX ao início do século XX. Nosso encontro com esse território foi um acaso, foi a área que descobrimos, que dava pra invadir sem ser muito perturbado.
A ocupação aconteceu em 2004. E, além de tentar entender as dinâmicas sociais desse território, junto com as famílias dos jovens que a gente pretendia atender e atende, fomos levados também a um processo de investigação, a uma leitura sócio-histórica do território. Nada científico, mas começamos a descobrir coisas que já sabíamos empiricamente, como o fato da Praça Onze ser o berço do samba e de outras manifestações da cultura popular. E daí vieram mais informações: a Praça Onze foi o berço dos primeiros grêmios recreativos; a comunidade judaica teve grande importância no surgimento de um tecido social organizado; e aqui surgiu o circo.
Ficamos muito felizes com o fato de, décadas depois, já no século seguinte, estarmos no cumprimento da função de preservar essa simbologia que existe na Praça Onze.
No primeiro momento, a instituição estava mais preocupada com a utilização do circo como uma ferramenta pedagógica, para um trabalho de integração social - o desenvolvimento de uma perspectiva integral de crianças e jovens de classes populares, que vivem não só aqui, mas nas comunidades favelizadas do entorno. Esse trabalho ganhou uma dimensão estética, criativa, e o Crescer e Viver começa a avançar neste outro campo: o de apropriar o desenvolvimento de habilidades desse jovens e crianças num processo de modelagem de modos de expressão artística e criativa do circo.
É raro o recebimento de circos desde que chegamos à Praça. Temos o problema nacional da dificuldades de circulação das estruturas de lonas itinerantes. De 2004 para cá, vemos que o Crescer e Viver cumpre o papel de preservação desse território da memória, como uma ação física e objetiva do circo, mas que tem impacto de preservação desse berço das tradições circenses da cidade do Rio de Janeiro."
Artigo de Junior Perim no livro "Vidas e Obras: Estácio, Cidade Nova e São Carlos", de Bernando Vilhena e Maurício Barros de Castro. Junior é cofundador e diretor-executivo do Crescer e Viver, um circo que une arte, educação e transformação social, e retoma a tradição circense do lugar. Fundado em 2000, o Crescer e Viver mudou-se para a região da Praça Onze em 2004, onde se encontra até hoje. Crédito da Imagem: Roberto Pontes