Museu Nacional, o marco inicial da disseminação científica no Brasil
Depoimento de Regina Dantas,
"Quando pequena, realizava piqueniques na Quinta da Boa Vista e sonhava em trabalhar no Museu Nacional. Ao fazer parte do quadro de servidores no Museu Nacional/UFRJ, a partir de 1994, me encantei com a instituição, porém estranhei a falta de informações nas exposições sobre a história do palácio e da instituição científica.
Incentivada pela curiosidade, coordenei um projeto que realizou o levantamento do acervo real e imperial existente no Museu com a participação de alunos do Colégio Pedro II, dentre os quais, um se destacou - Paulo Vinicius Aprígio (hoje doutor e professor do CPII). A pesquisa desenvolvida ao longo de dez anos culminou na realização de meu mestrado, que apontou a existência do "Museu do Imperador" D. Pedro II e esclareceu o motivo da transferência da instituição do Campo de Santana para o Paço de São Cristóvão na Quinta da Boa Vista. O doutorado veio inevitavelmente para selar a relação entre os estudos do cotidiano do Paço e a instituição científica. Estudos posteriores elevaram a participação das mulheres no Paço e no Museu, tais como: Leopoldina, Thereza Christina, Berta Lutz, Heloisa Alberto Torres e outras.
Constatei que a história do Museu Nacional é a esteira do desenvolvimento das ciências no Brasil e um marco inicial para a história das instituições científicas brasileiras.
Em 2018, em plena comemoração do bicentenário do Museu Nacional, a instituição foi tema da Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense no Carnaval carioca. Por meio de uma manifestação cultural foi possível apresentar a história da instituição e sua relevância no exercício da popularização das Ciências do Brasil. Ao longo deste ano, as fantasias que tanto brilharam neste Carnaval estarão sendo apresentadas nas salas das exposições do Museu Nacional até o mês de Dezembro. Um ato inédito e emblemático para o Museu Nacional – apresentar a história do primeiro museu do país que abriga a primeira instituição científica de forma lúdica no espaço acadêmico, pois o Museu faz parte da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Este patrimônio histórico e científico abre suas portas para o Rolé Carioca com a certeza de que é possível realizar a disseminação das ciências para a sociedade carioca em um palácio imperial."
Regina Dantas, historiadora do Museu Nacional/UFRJ, é professora do Programa de Pós-graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia/HCTE-UFRJ; professora colaboradora na graduação em Biblioteconomia Unidades de Informação e no Programa de Pós-graduação em Geociências: patrimônio Geopaleontológico. Autora da dissertação “A Casa do Imperador: do Paço de São Cristóvão ao Museu Nacional” e da tese “Casa Inca ou Pavilhão da Amazônia: a participação do Museu Nacional na Exposição Universal Internacional de 1889 em Paris”.