'As Vidas de José Bonifácio' revela político controverso que viveu preso em Paquetá
Por Rolé Carioca,
Para entrar no clima do 1º #RoléCarioca de 2019, pela pacata ilha de Paquetá, indicamos a leitura da mais recente biografia de José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838). Em "As vidas de José Bonifácio", a historiadora Mary Del Priore dá uma nova dimensão à imagem de ‘Patriarca da Independência’ associada ao político que foi ministro de D. Pedro I e tutor de D. Pedro II.
Como é sabido, a trajetória pública de José Bonifácio termina em um retiro forçado em Paquetá, onde viveu seus últimos anos em prisão domiciliar. Ele foi afastado da Corte em dezembro de 1833, acusado de traição e obrigado a entregar o cargo para integrantes do governo provisório da Regência. Consta que uma de suas residências segue de pé na ilha até os dias atuais, na praia que leva seu nome, um dos pontos do roteiro do Rolé Carioca.
A construção da autoimagem do político é uma das temáticas exploradas no livro. A alcunha ‘Patriarca da Independência’, por exemplo, foi resultado de uma associação feita pelo próprio José Bonifácio, ao fundar o jornal O Tamoyo, em 1823. “Ele defendeu a ideia de que, sem os Andrada, a emancipação do Brasil não teria sido feita. Só que essa ideia foi construída à custa de muita cizânia, fofoca. Quem inventou esse título foi ele mesmo, o José Bonifácio”. Mas quando José Bonifácio morreu em Paquetá, em 1838, ele estava empobrecido e esquecido. Sua imagem só foi recuperada em 1922, no centenário da Independência do Brasil, e cristalizada pela historiografia do período, segundo a historiadora.
Em sua versão, Del Priore revela um ‘Pai da Pátria’ contraditório, não exatamente um abolicionista nem tão intelectualizado assim. “José Bonifácio tinha um projeto de poder. O grande trabalho dele, que tem a ver com os dias de hoje, são os Brasis. Naquele momento, o Brasil tinha São Paulo começando com o café, a Bahia ainda com o cacau e o açúcar, o Nordeste com o extrativismo. Cada região tinha sua própria agenda e seus políticos defendendo os próprios interesses. Conseguir aglutinar tantas vozes é o grande trabalho que ele faz”, conta Mary.
Para a escritora, o Brasil não precisa de heróis ou ídolos, e sim conhecer a história de homens de carne e osso que nos ajudem a compreender tanto o seu percurso no passado quanto a época que os produziu. É a sua complexidade que os faz se destacar no cenário. Bonifácio foi além e quis atravessar o esquecimento, construindo a própria história.
Autora: Mary del Priore. Editora Estação Brasil. (328 págs)