Para muito além da estação ferroviária que recebeu o nome da imperatriz e se tornou um eixo muito importante do Rio de Janeiro, o segundo Rolé na Rede de 2020 desembarca em Manguinhos, passa pela Fiocruz e pega a Avenida Brasil em direção ao Complexo da Maré como pontos de encontro da região que nos ajudam a contar mais sobre o subúrbio da Leopoldina.
Em um passeio virtual pouco possível de ser feito a pé, com vídeos de drones e contextualização com imagens e documentos históricos, atravessamos o estreito entre a baía e o maciço e encontramos um corredor que atravessa bairros tradicionais como Manguinhos, Bonsucesso, Ramos, Olaria e Penha. Esse eixo foi de tudo: fazenda, fábrica e principalmente o caminho do dia a dia de muitos trabalhadores. A região é o berço de importantes signos da cultura carioca, como o Cacique de Ramos e a escola de samba Imperatriz Leopoldinense, além do Piscinão de Ramos, que atrai visitantes de vários pontos da cidade.
O Rolé, buscando conhecer um pouco mais sobre tudo isso, reuniu os professores William Martins e Roberta Baltar, convidando também Pâmela Carvalho, coordenadora no Redes de Desenvolvimento da Maré, em um encontro revelador e pra lá de especial.
Como muitos já sabem, o crescimento dos subúrbios no Rio de Janeiro se deu em razão do aumento de oferta de transporte em alguns pontos da cidade, sendo este transporte fundamentalmente o ferroviário. A Estação Barão de Mauá, hoje Estação Leopoldina, foi projetada pelo arquiteto britânico Robert Prentice e começou a funcionar em novembro de 1926 para atender a uma nova demanda da Leopoldina Railway Company LTD, que havia construído um prolongamento da linha de São Francisco Xavier até o Cais do Porto. Com 130 metros de fachada e quatro pavimentos, milhares de passageiros circulavam por ali diariamente com destino a vários cantos do Rio: Baixada Fluminense, Saracuruna, Magé, Região Serrana, Macaé, Campos e até ao Espírito Santo e Minas Gerais. Hoje, a Leopoldina é sinônimo de abandono e, apesar da construção permanecer íntegra, está mal conservada e suja. Recentemente, um convênio entre o Governo do Estado e o Tribunal Judiciário do Rio de Janeiro determinou que o prédio seria revitalizado para abrigar parte de seu setor administrativo.
Crédito Imagem: Estação Barao de Mauá em 1948 - Fonte site IBGE – Foto: Osvaldo Gilson Fonseca.jpg
Um dos principais trechos rodoviários do estado, a Avenida Brasil é tão importante e simbólica para o Rio de Janeiro que foi até nome de novela exibida durante o horário nobre. Sua construção está associada à expansão da cidade para zonas residenciais mais afastadas da região central, ainda na primeira metade do século XX. Foi inaugurada em 1946 e recebeu expansão à Zona Oeste com extinção da Avenida das Bandeiras em 1961, o que lhe garantiu esta transversalidade tão particular na cidade. Para seu funcionamento, também se tinha a intenção de diminuir os custos de circulação de mercadorias, assim como facilitar o acesso às indústrias, que possuíam presença expressiva na região. Teve importante consolidação a partir da década de 1950, com a chegada da indústria automobilística principalmente nos Anos JK.
Imagem: Avenida Brasil : Rio de Janeiro (RJ) | 1968 | Acervo dos municípios brasileiros, IBGE
Criada em 1900 com a fundação do Instituto Soroterápico Federal, a Fundação Oswaldo Cruz fica na Fazenda de Manguinhos, Zona Norte do Rio de Janeiro. Inaugurada originalmente para fabricar soros e vacinas contra a peste bubônica, a instituição experimentou, desde então, uma trajetória intensa e ímpar, referência no próprio desenvolvimento da saúde pública no país. O Instituto foi responsável pela reforma sanitária que erradicou a epidemia de peste bubônica e a febre amarela da cidade e logo ultrapassou os limites do Rio de Janeiro, com expedições científicas que desbravaram as lonjuras do país. Na gestão do sanitarista Sergio Arouca, realizou seu 1º Congresso Interno, marco da moderna Fiocruz e nos anos seguintes foi palco de grandes avanços, como o isolamento do vírus HIV pela primeira vez na América Latina.
Crédito da Imagem: Foto Peter Ilicciev | site Fiocruz
Desde 1994, o Complexo da Maré é oficialmente um bairro da cidade que congrega dezesseis microbairros ou favelas, sendo o Morro do Timbau a primeira da região. Sua geografia é delimitada pela Baía de Guanabara e por e três vias expressas: Linha Vermelha, Linha Amarela e Avenida Brasil, pontos economicamente estratégicos de ligação ao centro que contribuíram para o crescimento de sua população em paralelo à fundação da Cidade Universitária. Na década de 60, com o governo de Carlos Lacerda, houve uma modernização da cidade, construindo-se viadutos, túneis, parques e jardins na zona sul, em paralelo ao estabelecimento e prática de uma política de remoção das favelas para áreas distantes e desvalorizadas como a Maré. Nesta época, diversas favelas da Zona Sul foram removidas para as suas comunidades, principalmente para a Nova Holanda. O complexo da Maré possui é um importante polo cultural da cidade, possui 1 lona cultural, 3 centros culturais, 14 ongs e um parque ecológico. Além disso, tem 16 associações de moradores e 96 instituições religiosas.
Crédito da Imagem: Centro de Artes da Maré | Foto Douglas Lopes
A história do cinema no Rio de Janeiro não pode ser contada sem um capítulo na Zona da Leopoldina. Tal como espaços como Cinelândia e Tijuca, a região teve forte presença de salas de cinema a partir de 1938 com a abertura do Cine Rosário e seus imponentes 1442 lugares. De lá para cá, foram mais de 17 cinemas abertos na região, com destaque para o Cine Rio Palace, o primeiro da cidade a juntar atividades comerciais ao lazer do cinema. Com uma galeria de lojas junto de suas portas, antecipou em décadas o conceito de Galerias Comerciais com atrativos culturais e os Shoppings Centers. Ele foi foi avaliado como um dos cinemas com a maior tela de projeção do Brasil.
Ah, o Cacique de Ramos! Quantos outros patrimônios culturais da cidade são tão simbólicos do povo carioca? O Cacique é um dos mais importantes blocos carnavalescos do Brasil, originário do subúrbio carioca de Ramos, zona da Leopoldina. Seu padroeiro é São Sebastião e foi fundado em 1961 por três famílias: família Félix do Nascimento, família Oliveira e família Espírito Santo. O Cacique é de Ramos, mas a quadra de um dos mais antigos blocos do Rio fica em Olaria. Por lá, aos domingos, a partir das 17h, acontece uma das rodas de samba mais importantes da cidade. Se você ainda não foi conhecer, não perca mais tempo: é uma das manifestações mais lindas que temos no Rio de Janeiro!
Entre as escolas de samba mais tradicionais do Rio de Janeiro, está a aclamada Imperatriz Leopoldinense, fundada em 1959 e sediada no bairro de Ramos. Quem nunca se emocionou ao vê-la desfilar? Seu nome, é claro, faz referência à Estrada de Ferro Leopoldina - que cortava o bairro de Ramos - e que, por sua vez, recebeu esse nome em referência à Imperatriz Maria
Leopoldina do Brasil. Suas cores foram escolhidas em referência à sua escola-madrinha, Império Serrano. Em seu pavilhão, onze estrelas simbolizam os bairros que compõem a Zona da Leopoldina: Bonsucesso, Brás de Pina, Cordovil, Manguinhos, Olaria, Parada de Lucas, Penha, Penha Circular, Vila da Penha, Ramos e Vigário Geral. A estrela que representa Ramos fica destacada, na parte de cima da bandeira, por representar o berço da escola.
Se fez calor, de Manguinhos a Vigário Geral o ponto de encontro é o mesmo: o Piscinão de Ramos, uma área de lazer que consiste em uma praia artificial de areias de tombo em torno de uma piscina pública de água salgada, instalada no bairro da Maré, na zona norte do Rio de
Janeiro. Planejado e inaugurado por Anthony Garotinho, o Piscinão mergulhou em polêmicas e dividiu opiniões da população carioca, sob acusações de ser uma obra de intenções eleitoreiras e populistas, além da possibilidade de contaminação da água por excesso de urina. Apesar de tudo, o parque tornou-se rapidamente um símbolo do subúrbio carioca e aos poucos um cartão-postal da cidade.