O Museu Histórico Nacional foi criado em 1922 no período de comemorações do centenário da independência. Erguido em território originalmente Tupinambá, a arquitetura se desenvolveu a partir da antiga Fortaleza de Santiago da Misericórdia, construída pelos portugueses em 1603, entre as praias de Piaçaba e Santa Luzia, para a defesa da cidade que havia sido transferida para o Morro do Castelo.
Na colonização de Abya Yala (o continente americano na língua do Povo Kuna), um dos instrumentos de dominação foi a fé cristã, como na invasão dos espanhóis à capital do Império Inca, Cusco, a partir de 1534. Retratando cenas bíblicas, como a glorificação de santos e condenações ao inferno, a Arte Cusquenha mesclou os parâmetros europeus de arte com a influência da cultura nativa, mas foi criada para converter as populações indígenas ao catolicismo.
O pátio expõe canhões de diversas nacionalidades e nos remete a pensar na cultura bélica europeia que deu base para as colonizações realizadas inicialmente por Portugal e Espanha. Os canhões e outros armamentos materializaram o projeto destes Estados de explorar as riquezas e os povos de Abya Yala, para atender os interesses da monarquia, Igreja Católica e burguesia. O destaque que é dado em museus a objetos de artilharia, demonstra como aprendemos a valorizar a cultura do extermínio.
Até os dias de hoje existem narrativas que tratam a chegada dos Ibéricos em nosso continente como “descobrimento”. No território brasileiro invadido por Portugal havia 1.400 povos com uma população de aproximadamente 8 milhões, enquanto no invadido por espanhóis 53 milhões aproximadamente. Como podemos aceitar um suposto descobrimento com tanta gente vivendo por aqui há milhares de anos? Nesta exposição podemos compreender os povos originários que aqui estavam e que ainda estão.
Antes das invasões europeias, os aldeamentos ou cidades indígenas eram interligadas por uma imensa conexão de caminhos destruída pelos colonizadores. Desde então, houve desterritorialização e etnocídio. Nesta exposição podemos observar e questionar como estão sendo narradas as ações dos portugueses no Brasil e buscar direcionar o nosso olhar para as resistências de negros e indígenas que ao longo da nossa história não tiveram os seus protagonismos reconhecidos.
A fundação do Império no Brasil costuma ser narrada com a declaração de independência realizada pelo Príncipe Regente D. Pedro. Houve o apoio de proprietários de terra para conservar latifúndios e o trabalho de pessoas negras escravizadas; mas a independência foi feita também por pessoas pobres, homens e mulheres, indígenas, negros libertos e escravizados que enxergaram a possibilidade de se libertarem das opressões coloniais e permanecem invisibilizados pela narrativa da memória oficial.
A exposição tenta nos convidar a direcionar nosso olhar para o que seriam outros mundos, os de matriz africana, que sempre existiram para além do europeu e desembarcaram em nosso território através do Atlântico, formando uma rede de culturas que fazem parte da nossa história; mas este intercâmbio cultural não ocorreu de maneira harmônica. É preciso também ter cuidado com o discurso que folcloriza a atuação das pessoas negras na sociedade desde a diáspora e que limitam suas possibilidades de atuação.
Aparecida Azedo, autora da tela, trabalhou como boia-fria aos 14 anos, foi militante política aos 16 anos, enfrentou prisões e clandestinidade e tornou-se artista plástica autodidata internacionalmente reconhecida. O quadro representa uma linha do tempo com episódios históricos e ciclos econômicos do Brasil. Observe quais personagens e fatos foram representados. As lutas de mulheres, negros e indígenas não estão presentes. Se você pudesse acrescentar personagens na tela, quais seriam?
Alguns movimentos republicanos ao fim do império traziam inspirações da Revolução Francesa que tinha como lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. Curiosamente, grande parte excluiu a “igualdade” durante a propagação. Em um país onde grupos étnicos são historicamente reprimidos quando a liberdade e a democracia se tornaram supostamente presentes, é importante refletirmos sobre as mensagens aqui expostas.
O território onde hoje está o Museu Histórico Nacional era ocupado por tupinambás, os quais habitavam toda a costa da Baía de Guanabara e se organizavam em tabas (aldeias), cada uma com cerca de sete ou oito malocas (casas comunitárias) e nas quais poderiam morar mais de 500 pessoas. No século XVI, uma destes espaços de ocupação tupinambá descrito por Jean de Léry era a Kariók, do qual alguns interpretam que originou a palavra carioca.
A origem do Museu Histórico Nacional está associada ao desmonte do Morro do Castelo e à remoção de cerca de 4 mil moradores - pobres e trabalhadores que o habitavam. Para instalar os pavilhões da Exposição Internacional do Centenário da Independência (1922) – entre eles o Palácio das Grandes Indústrias, onde hoje está o museu – o prefeito Carlos Sampaio ordenou a derrubada do morro alegando questões estéticas e sanitárias.
O acervo arquivístico do Museu Histórico Nacional contém mais de 62 mil documentos sobre a história do Brasil, obras em sua biblioteca do século XVI ao XXI e cerca de 170 mil itens museológicos. Entre as contribuições do Museu para uma abordagem decolonial reflexiva e prática está disponível em seu canal do YouTube, por exemplo, está disponível o seminário “Educação Museal e decolonialidade”, importante conteúdo para educadores, profissionais e frequentadores de museus.
Nesta animação, um guerreiro tupinambá recebe a missão de derrotar a força maligna Anhangá e reencarna em diferentes etapas históricas do Brasil. Vivencia a colonização francesa, a escravidão, a luta popular da Balaiada, a ditadura civil-militar e um futuro distópico de escassez e disputa por água.
Da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi, aborda os perigos de manter apenas uma narrativa sobre povos sem considerar as diversas histórias que os compõem. A autora exemplifica sua infância consumindo informações de desvalorização da África e a transformação quando descobriu a literatura africana.
Disco e álbum visual da cantora indígena Kaê Guajajara que enfrentou migração forçada do Maranhão e cresceu no complexo de favelas da Maré. Segundo a artista, as músicas abordam o corpo-território que perambula pelo Brasil sendo marcado e demarcado pela colonização.