O bairro Colônia, na Taquara (Jacarepaguá), é uma área residencial que se desenvolveu a partir de uma instituição psiquiátrica, a Colônia Juliano Moreira. No passado, essas terras pertenciam ao Engenho Nossa Senhora dos Remédios, localizado nas áreas rurais distantes dos primeiros núcleos urbanos da cidade, conhecidas como o Sertão Carioca.
Em torno da Colônia Juliano Moreira se formou uma comunidade de moradores constituída por antigos funcionários e pacientes. Atualmente, na Colônia Juliano Moreira existem diversos projetos de reintegração psicossocial, rompimento de barreiras sociais, convivência e acolhimento.
Em um de seus edifícios históricos está sediado o Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea que preserva e difunde as obras artísticas de Arthur Bispo do Rosário, negro sergipano que foi um dos pacientes da Colônia Juliano Moreira. Sua história se conecta com a de muitos outros sujeitos estigmatizados e marginalizados em razão de seu perfil (como origem étnica, classe social, característica neurodivergente, entre outros) e que por isso eram alojados compulsoriamente em instituições psiquiátricas.
O Rolé pela Colônia Juliano Moreira protagoniza aqueles que por séculos foram marginalizados nas narrativas sobre o Rio de Janeiro, contribuindo também para o fortalecimento das memórias do subúrbio; compartilha a história desse território que é um dos símbolos do bairro de Jacarepaguá, com grande valor histórico, artístico, cultural, arquitetônico e relevância para o debate sobre a construção de uma medicina psiquiátrica que respeita os direitos humanos.
Arthur Bispo do Rosário (1909-1989) foi um artista negro, sergipano e um dos pacientes da Colônia Juliano Moreira. O Museu tem como objetivo conservar e difundir os trabalhos de Bispo, igualmente desenvolver outras ações através do seu acervo. Contém galerias de exposições de arte contemporânea tendo como referência Bispo do Rosário, além de programas educativos gratuitos.
Datada do século XIX, essa Igreja de estilo neoclássico empregava alguns pacientes para realizar serviços de manutenção do templo, como zelador e jardineiro. É importante destacar que a igreja exercia funções estatais até a proclamação da República em 1889, momento em que houve a separação entre Estado e Igreja. Essa prática de disseminar os rituais católicos por toda a Colônia também representava uma maneira de ampliar a influência religiosa.
O Núcleo Histórico Rodrigues Caldas (NHRC) foi o primeiro conjunto de pavilhão da Colônia Juliano Moreira, onde ainda há uma arqueologia histórica do antigo engenho, como esse sistema de aqueduto que era irrigado com as águas provenientes do atual Parque Estadual da Pedra Branca, além de outras ruínas. Nos engenhos do Brasil colonial, a mão de obra era composta predominantemente por escravizados africanos e indígenas. Uma de suas estratégias de resistência era a formação de Quilombos. No Parque Estadual da Pedra Branca ainda existem remanescentes quilombolas, como o Dona Bilina (Campo Grande), Camorim (Jacarepaguá) e Cafundá-Astrogilda (Vargem Grande).
Após a desapropriação das terras do engenho para a construção da colônia, o edifício passou a abrigar o centro médico e administrativo devido à sua localização central em relação aos pavilhões. As pessoas neurodivergentes, tratadas como doentes mentais, não recebiam assistência médica adequada e eram colocadas em prisões ou celas das Santas Casas de Misericórdia. No início do século XX, difundiu-se o Higienismo, doutrina na qual a modernização e a melhoria das condições sanitárias foram usadas como justificativa para implementar políticas de segregação e exclusão social. Nesse contexto, muitas dessas pessoas foram encaminhadas para as instalações hospitalares como a Colônia Juliano Moreira.
A partir do século XVII, o abastecimento de água na cidade do Rio de Janeiro se dá por meio de fontes, chafarizes, bicas d'água e aquedutos. Escravizados indígenas e africanos realizavam o transporte por meio de baldes e latas de água para abastecer a residência de seus patrões, pois mesmo os mais ricos não tinham água encanada e esgoto.
O Núcleo Ulisses Vianna era murado e possuía 11 pavilhões projetados para os pacientes homens com comportamento violento e agitado, com celas semelhantes às solitárias prisionais. Arthur Bispo do Rosário esteve alojado no pavilhão 10 ao ser diagnosticado com esquizofrenia paranoica. O pavilhão 10 é o único remanescente da estrutura original e contém evidências dos trabalhos de Bispo que estão atualmente preservados no Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea.
O Ateliê Gaia do Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea é um espaço terapêutico e de criação que tem um histórico em proporcionar a reabilitação psicossocial dos artistas envolvidos, valorizando suas subjetividades e rompendo com uma série de estigmas atribuídos aos usuários da rede de saúde mental. O espaço é gerido coletivamente pelos artistas com o apoio e acompanhamento da curadoria geral e pedagógica do Museu.
Arthur Bispo do Rosário (1909-1989), homem negro e sergipano, esteve alojado na Colônia Juliano Moreira ao ser diagnosticado com esquizofrenia paranóica por causa de suas visões proféticas. Antes disso, havia trabalhado como marinheiro, pugilista e outras atividades informais. Em diversas ocasiões fugiu das internações e conseguiu privilégios como escapar de eletrochoques e medicações. Isolado na cela, pedaços de madeira, arame, papelão, linhas e outros resíduos da colônia tornaram-se matéria prima para as suas obras de arte, atualmente preservadas no Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea.
Stella do Patrocínio, assim como Arthur Bispo do Rosário, foi abordada pela polícia e forçada a ser internada no Centro Psiquiátrico Pedro II aos 21 anos. Foi transferida para a Colônia Juliano Moreira, onde permaneceu até seu falecimento aos 51 anos. Em um projeto artístico para as internas, Stella e a artista Carla Guagliardi gravaram conversas chamadas por Stella de "falatório". Trechos do Falatório de Stella podem ser escutados no site do Museu Bispo do Rosário, em https://museubispodorosario.com/stella-do-patrocinio-memorias/
O podcast Eu Vim Contar uma História é um projeto de realização do Museu Bispo do Rosário em parceria com a Escola Municipal Juliano Moreira. O ponto de partida das histórias criadas são os lugares da Colônia, bairro onde estão a escola e o museu. Cerca de 70 crianças elencaram esses lugares e começaram a inventar histórias. Tem terror, documentário, romance, comédia, drama... Ao todo são 13 episódios cujas narrativas estão ambientadas no próprio bairro.
A Colônia Juliano Moreira recebeu essa denominação em homenagem a um dos precursores da psiquiatria no Brasil. Juliano Moreira era um médico baiano, pesquisador e divulgador científico que adotou um tratamento mais humanizado aos pacientes, como a eliminação de grades e camisas de força, separação por sexo e faixa etária, e implementação de oficinas para a ocupação. É um dos intelectuais negros que deixou um grande legado no seu campo de atuação.
No canal do Youtube Museu Bispo do Rosário, além de seminários, debates e outros materiais, está disponível o documentário “O Prisioneiro da Passagem”, de Hugo Denizart. O curta é protagonizado por Bispo do Rosário e denuncia o descaso que aquelas pessoas ficaram submetidas durante tantos anos de internação psiquiátrica. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=8MzFTaOvsCQ&t=733s
O livro “Holocausto Brasileiro: Genocídio: 60 mil mortos no maior hospício do Brasil” é uma obra investigativa da jornalista Daniela Arbex, com entrevistas de ex-funcionários e sobreviventes do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena. Apresenta como pessoas socialmente marginalizadas foram maltratadas e mortas nessa instituição com o consentimento do Estado e da sociedade.
No Canal do YouTube do Rolé Carioca, é possível assistir o vídeo “Rolé Visita Colônia Juliano Moreira”. Nele, conversamos com Claudia Revoredo, coordenadora de Comunicação do Museu para conhecer mais da história do espaço em homenagem ao artista plástico sergipano Arthur Bispo do Rosário. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=3wTlPKJOf8Q&t=2s