Na Feira de São Cristóvão, o poder do encontro da cultura nordestina
Depoimento de Magna Fernandes,
“Sou paraibana e comecei a frequentar a Feira de São Cristóvão aos 13 anos. Meu cunhado, que é músico, começou a se apresentar lá aos finais de semana e fui, pela primeira vez, com minha irmã vê-lo tocar com seu grupo musical. Ali eu encontrei, no Rio de Janeiro, um local que representava o nosso Nordeste.
Me interessei muito pela feira e passei a ir semanalmente, toda sexta, sábado e domingo. Tudo tinha a ver com a Paraíba! Não só os forrós, como também as comidas típicas. Minha mãe e minha irmã passaram a trabalhar nas barraquinhas e, aos 16 anos, me tornei feirante: vendia queijo coalho com refrigerante em frente ao Pavilhão. Quando minha filha nasceu, passei a comercializar bijuterias só aos finais de semana, principalmente para as cantoras que se apresentavam na feira. Na feira, pude ouvir, ao vivo, as músicas de compositores que minha avó e minha mãe ouviam, especialmente do paraibano Bartô Galeno. O estilo dele é bem romântico, que a gente chama de sofrência, rs.
A feira é um ponto de aproximação da cultura do Nordeste até hoje. Outro dia, uma rádio da Paraíba fez um programa ao vivo na feira e muitos de seus ouvintes que estão no Rio vieram acompanhar a gravação. Continuamos a promover encontros de muita gente que não se vê há anos. Amigos e parentes, que a cidade grande, às vezes, distancia. Vemos essa movimentação pelas redes sociais, pelo Facebook e bate-papos.
Vocês, do #RoléCarioca, precisam ouvir nossas bandas de forró, os trios e os repentistas, que tanto representam a cultura nordestina. São 7 palcos no espaço da feira: os principais, onde rola música ao vivo de 6 da tarde às 6 da manhã, os menores com forró pé de serra e, no meio da feira, a Praça dos Repentistas.
Na área gastronômica, temos representantes de toda culinária nordestina: do Maranhão, da Bahia, da Paraíba, com deliciosas variações do baião-de-dois e da carne-de-sol. Inauguramos uma casa de taipa em tamanho real, moradia usada até hoje em regiões do agreste. Também irão conhecer nosso Natal Nordestino e ver árvores de Natal diferentes das que vemos pelo Rio.”
A ex-feirante Magna Fernandes, 35 anos, é a primeira mulher a atuar na gestão da Feira de São Cristóvão, o Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas (CMLGTN), onde há mais de 70 anos a cultura nordestina é celebrada no bairro de São Cristóvão, ponto de encontro de imigrantes de todo Nordeste na zona norte do Rio. Atualmente a Feira conta com cerca de 700 barracas e 200 restaurantes com produtos típicos do norte e nordeste.