Site mantém viva a memória de veteranos da FAB na 2ª Guerra
Depoimento de Luis Gabriel,
Meu pai, o veterano David Rosal Gabriel (1926-2005), foi quem me motivou a organizar o site “Sentando a Pua”. Apesar de ter ido para a guerra muito jovem - fez 18 anos no dia em que o navio UST Colombie chegou à Itália (4/10/1944) - ele se preocupou em fazer um diário e em guardar diversos itens que contam a história da guerra, como fotos, documentos, recortes, etc. Desde pequeno, consultava esse material e, em 2000, comentei com ele sobre disponibilizarmos os conteúdos na web para que outras pessoas pudessem também apreciar o acervo, e divulgar a história do Grupo de Caça e da 1ª ELO. Ele topou na hora e assim surgiu o Sentando a Pua.
O nome deriva do grito de guerra do 1º Grupo de Aviação de Caça, e foi inspirado no livro “Missão 60” - seu autor, Fernando Pereyron Mocellin, piloto de guerra com 59 missões, usava com frequência essa expressão como verbo, por exemplo, “a gente saia para as missões e sentava a pua neles!”. Usei o termo no gerúndio para dar a ideia de uma ação que nunca acaba, pois até hoje, passados 74 anos do fim da guerra, ainda descobrimos coisas novas sobre o Grupo de Caça.
Meu pai era órfão de pai e para ajudar minha avó entrou na Aeronáutica em 1943, ainda com 16 anos. Logo quando o Grupo de Caça foi criado ele se interessou em ser voluntário e se inscreveu. Foi um dos primeiros a embarcar para o treinamento nas bases americanas e, portanto, viveu o ciclo inteiro do Grupo de Caça na guerra, passando pelos treinamentos no Panamá e nos EUA. Trabalhou durante a guerra no Technical Supply, que era a área responsável por armazenar e organizar as peças sobressalentes para a área de manutenção das aeronaves. Pouco tempo depois de retornar ao Brasil, perdeu também sua mãe, e resolveu dar baixa da Aeronáutica e sair do Rio. Quis o destino que o trem em que ele ia para São Paulo tivesse feito uma longa parada em Volta Redonda. Isso fez com que ele e seu companheiro de viagem fossem tentar a sorte na recém-criada Companhia Siderúrgica Nacional, com sucesso. Meu pai ficou 22 anos trabalhando lá, na área de siderurgia. De volta ao Rio em 1967, trabalhou nessa área em várias empresas de consultoria até praticamente 2000. No final da vida, se dedicou voluntariamente à ANVFEB - Associação Nacional dos Veteranos da FEB - sendo responsável pelo acervo audiovisual da entidade.
Hoje são poucos os sobreviventes do Grupo. No último levantamento atualizado, eram 12 veteranos ainda vivos. Mantemos contato com alguns deles, outros apenas com os familiares. Até o início de 2015 era realizado mensalmente um almoço no Clube da Aeronáutica, no centro do Rio, que reunia veteranos, familiares e amigos. O Sentando a Pua proporcionou a vários entusiastas ter contato com nossos veteranos nesses encontros. Pessoas de outros estados vinham só para apertar a mão dos ex-combatentes e ouvir um pouco de suas histórias. Infelizmente, essa reunião acabou por conta da idade avançada deles e por dificuldades em chegar ao local do evento. Nós, os filhos, netos e amigos, procuramos manter a tradição e nos reunimos na Base Aérea de Santa Cruz para participar das solenidades alusivas ao Aniversário do Grupo de Caça e ao Dia da Aviação de Caça. Nem todos os veteranos têm condições de participar, pois estão com idade acima de 93 anos. Continuamos a fazer um trabalho voluntário de troca de informações, bem como ajudar na identificação de veteranos em fotos e na discussão de temas relacionados ao Grupo de Caça e à 1ª ELO. Atualmente, um grupo no Whatsapp agrega filhos, netos, bisnetos e amigos de veteranos com o intuito de fomentar uma iniciativa que vem do Rio Grande do Sul, onde está sendo criado o Museu Nero Moura.
No Twitter, postamos notícias que fazem menção à participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial e tem o objetivo de mostrar como os jornais viam nossa participação e seus desdobramentos no desenrolar do conflito. Esse trabalho de pesquisa online nos jornais da Biblioteca Nacional e seleção das notícias, durou sete anos, entre 2011 a 2017. São recortes que contam diariamente desde os primeiros torpedeamentos de navios brasileiros, passando pela declaração de guerra, formação da FEB, entrada em combate da FEB e da FAB, e a volta dos nossos pracinhas. As imagens no Instagram fazem parte do nosso acervo e, assim como o Twitter, tem o objetivo de ampliar a visibilidade do site, ajudando na divulgação desta história. Na loja virtual do site, estão à venda o DVD “Senta a Pua”, documentário que contém uma série de entrevistas com os veteranos do Grupo de Caça e foi produzido em 1999 pelo diretor Erik de Castro, e outros títulos da BSB Cinema que passaram a ser distribuídos com exclusividade a partir de 2012: “A Cobra Fumou (FEB)” e “O Brasil na Batalha do Atlântico (Marinha)”.
Fora o Museu Aeroespacial, que possui uma sala dedicada à FAB na Guerra, merecem uma visita a Casa da FEB (Rua das Marrecas 35), que é o principal local de preservação da memória de nossos pracinhas e tem um acervo muito bom, o Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial (no Aterro do Flamengo) e também o Museu Conde de Linhares (Av. Pedro II, 383, em São Cristóvão).
Engenheiro de telecomunicações de formação, Luis Gabriel é um apreciador da história da 2ª Grande Guerra e se dedica a pesquisar sobre o assunto em jornais e revistas antigas. Desde 2000, organiza o acervo disponível no site “Sentando a Pua” com fotos, notícias e dados do 1º Grupo de Aviação de Caça e da participação da FAB no conflito.