Marechal Hermes e o sentimento de pertencer a um território
Depoimento e poesia de Gledson Vinicius,
"Eu nasci nesse arrabalde. As quermesses da igreja são lembranças queridas. Entrega de medalha do colégio no Teatro Armando Gonzaga faz parte de minha memória. Mas a rua, a minha rua, me formou. Nela joguei bola, fiz amigos, brinquei de tudo que se brinca por essas bandas. Fui criança, adolescente, homem.
Existe um laço único entre o indivíduo com seu território. Tem a ver com pertencimento. No momento em que você percebe esse laço e celebra suas vivências, pronto: você cria.
Pessoas, sobretudo, fazem parte dessa história: o Zezinho, treinador mais conhecido de Marechal. É um querido professor de educação física que treinou metade do bairro na escolhida de futsal do Marã, local fundamental do bairro. Teoblando pinta placas por toda vizinhança. É o nosso chinegro- ele conta que é uma mistura de negro com chinês. E o Wagner do violino. Ele ensaia/ensaiava sob a cúpula da Escola Evangelina. Uma atração à parte pelas andanças do bairro.
Lá se vão 8 anos nesse projeto de colocar a poesia em movimento. A história começou como desejo de um jovem casal que desejava viver de literatura. Minha esposa e eu unimos ideias, proposta de vida em um plano de negócio que se baseava em transformar o substantivo poema em um verbo. Queríamos ver a poesia em movimento. Assim foi a gênese da Poeme-se.
No #RoléCarioca por Marechal Hermes, prestem atenção em alguns pontos: a Rua Azulão, onde gravaram a novela “Pecado Capital”. Na casa da Nair de Teffé, mulher do Marechal Hermes. E na Lux com sua pizza brotinho - um lugar querido por todos os moradores."
Gledson Vinícius é poeta e “cria de Marechal”. Concebeu o projeto “Poeme-se” numa casa da Rua Comandaí, em Marechal Hermes, de onde espalha poesia pelo mundo desde 2010. No poema “Certidão de Nascimento” (reproduzido abaixo), o autor faz uma ode ao bairro onde vive. A produção poética inclui Camisetas Literárias, uma homenagem a grandes autores e pensadores.
Certidão de Nascimento
Eu venho de lá
Eu sou de lá
Terra de fora, de fora do ar
Lugar de gente, lugar de amar
Lugar de pelada, de alívio, de descansar
De cerveja gelada, de mulata,
De sacanagem, de briga de bar.
De pipa empinada,
De moda inventada...
Cabresto, rabióla,
Bate-bola, bexiga, Buá
De bola de gude, cabra cega,
Pique-bandeira, de pique-tá.
Lugar de queimado, pique-lateiro,
Telefone sem fio, polícia e ladrão
Pula corda, elástico, carniça, garrafão.
Peteca, morto-vivo,
Pique-esconde, carrinho de mão.
Lugar diferente,
De gente que ri
Que sabe brincar.
Eu venho de lá
De lá desse lugar...
De povo valente
Que triste ou doente
Não esquece o batente
E vai vadiar.
De gente da gente
Que reza que ora
Que tem tantos santos pra cultuar
Eu sou mesmo de lá
Subúrbio da central
Arrabalde brasileiro
Bairro planejado
Desse tal São Sebastião do Rio