O segundo Rolé Visita acontece no mais antigo museu brasileiro, que completa 200 anos em 2018. Poucos edifícios têm tanta história quanto o que abriga o Museu Nacional, uma história que se mistura com a do Brasil. No conjunto formado pelo Museu e a Quinta da Boa Vista, a dinâmica da história brasileira está representada de forma completa: o eurocentrismo que marca nossa identidade, a tentativa da criação de uma identidade nacional e o processo de apagamento das memórias nas disputas pelo poder.
A região onde se situa o bairro de São Cristóvão era terra dos jesuítas até sua expulsão em 1759. Em 1808, recém-chegada ao Brasil, a família real portuguesa se estabeleceu no palácio e terreno doados por um comerciante de escravos. Por 80 anos, o Paço da Quinta da Boa Vista sediou o governo monárquico. Mesmo com residências em Paquetá, Santa Cruz e Petrópolis, a moradia oficial do Império brasileiro se manteve em São Cristóvão.
O prédio caiu em ostracismo nos primeiros momentos da República, com o processo relâmpago de leilão de pertences do reinado de D. Pedro II e a necessidade de esvaziar o culto à monarquia. Foi quartel e repartição pública até que fosse destinado, em 1892, a abrigar os objetos históricos da coleção iniciada em 1818 por D. João VI. Desde a década de 1950 está vinculado a Universidade do Brasil (atual UFRJ). Durante os anos 90, por falta de verbas, o acervo que abrange esqueletos pré-históricos, múmias egípcias e armas indígenas esteve à beira do abandono. Por sua relevância para a memória nacional e como instituição científica, defende-se a recuperação contínua do Museu Nacional.
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O primeiro zoológico brasileiro foi criado em 1888 pelo Barão de Drummond, em Vila Isabel. Com dificuldades financeiras para manter o empreendimento, o barão incentivou uma “ jogatina” que acabaria se tornando febre carioca: o “jogo do bicho”, com sorteios diários em dezenas que representavam os animais. A ideia acabou virando um marco, mas não foi suficiente para salvar o antigo zoo, que fechou suas portas na década de 40. Em 1945, a cidade ganhou um novo zoo, na Quinta da Boa Vista, que teve seus períodos de glória. Em 1985 foi transformado em Fundação RIOZOO e, desde outubro de 2016, está sob nova gestão.
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Assim como o Palácio, a área verde que o circunda sofreu inúmeras alterações ao longo do tempo. O portão monumental, inspirado no pórtico da Syon House londrina que foi dado de presente para o casamento de D. Pedro I com Leopoldina, hoje adorna a entrada do Zoológico. Durante o reinado de D. Pedro II, os jardins foram embelezados pelo paisagista francês Auguste François-Marie Glaziou e seu acesso foi aberto à população em geral, aos domingos. São dessa época (1868-1872) a Alameda das Sapucaias, o Lago de Pedalinhos e a Gruta Artificial. Já o mirante conhecido como Pagode Chinês e o Jardim Terraço, construído em estilo italiano no pátio em frente ao palácio, datam do início do século XX.
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O Meteorito de Bendegó é o maior brasileiro conhecido até o momento, composto principalmente de ferro e níquel. Possui uma massa de 5,36 toneladas e mede 2,15m x 1,5m x 65cm. De formato meio achatado, lembra uma sela de montaria. A rocha caiu no interior da Bahia e foi descoberta em meados do século XVIII. Após uma tentativa fracassada de transportá-lo para Portugal, o meteorito caiu no leito do rio Bendegó, onde permaneceu durante 100 anos, até ser removido e transportado em 1888 para o Museu, nessa época situado no Campo de Santana.
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Os fósseis de preguiças gigantes e um tigre-dente-de-sabre, do acervo do Museu Nacional, têm cerca de 12 mil anos de idade. Já o esqueleto do titanossauro descoberto no município do Prata, Minas Gerais, é uma reconstituição óssea e foi o primeiro dinossauro de grande porte brasileiro montado para exposição no país.
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O destaque é o esqueleto humano mais antigo encontrado no Brasil. Popularmente conhecido como Luzia, datado de 11,5 mil anos atrás, foi achado em 1975 no sítio arqueológico de Lagoa Santa, Minas Gerais. O crânio pré-histórico trouxe novas teorias sobre a ocupação do continente americano a partir de sua reconstituição facial, em 1999.
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Com 700 objetos funerários, a coleção egípcia do Museu é a mais antiga e importante da América do Sul. Começou a ser formada em 1826, quando D. Pedro I adquiriu um grande lote de objetos em leilão - proveniente provavelmente da necrópole de Tebas. Outra parte foi comprada posteriormente. O esquife de Sha-amun-em-su foi um presente pessoal dado por um soberano egípcio a D. Pedro II. Além do esquife, há mais três múmias inteiras de adultos, duas de crianças e partes embalsamadas de corpos humanos – uma delas é considerada rara devido à técnica dos membros enfaixados separadamente.
Crédito da imagem: Thiago Diniz/Rolé Carioca
Grande parte do acervo greco-romano da Coleção Imperatriz Tereza Cristina vem das cidades de Pompéia e Herculano, destruídas em 79 d.C. por uma erupção do vulcão Vesúvio. A exposição apresenta objetos de bronze, terracota, vidro e afresco, do cotidiano dos habitantes daquela região: peças do toucador das romanas, vasilhames de bronze e vidro, amuletos fálicos, ânforas para o consumo de vinho, a bebida mais popular dos romanos do período clássico.
Crédito da Imagem: Thiago Diniz/Rolé Carioca
Na coleção do Museu, há peças que representam animais, plantas e instrumentos musicais produzidas pelos povos andinos Mochica, Chimu, Nasca, Chankay e Incas. As múmias andinas diferem das egípcias, tais como, a Aymara, o menino mumificado, e o corpo achado em Chiu-Chiu, no deserto de Atacama (Chile). E a múmia de cabeça elaborada pelos Jivaros, grupo que viveu na Amazônia equatorial.
Crédito da Imagem: Thiago Diniz/Rolé Carioca
Do período imperial, a Sala é mantida com a pintura da época e busca recriar como era o palácio antes da expulsão da família imperial. A residência era dividida em três pavimentos: o primeiro destinado a serviços gerais e recepções; o segundo era um pavimento mais ornamentado que tinha como função receber os visitantes; e o terceiro composto por dormitórios e áreas privativas. Após as reformas de adaptação ocorridas em 1910, muitas salas foram modificadas, um processo de transformação que ocorre até os dias de hoje.
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Na sala da Etnologia estão expostas provenientes de diversos grupos situados no território brasileiro. Lá estão objetos de sua cestaria, de cerâmica, armas e armadilhas, seus instrumentos musicais e sua arte plumária. As peças mostram a riqueza da cultura indígena e portam diálogos estabelecidos com outras coletividades, com as quais os índios interagiram em contextos históricos distintos.
Crédito da Imagem: Thiago Diniz/Rolé Carioca
A troca foi boa para D. Pedro II, estudioso da cultura do antigo Egito. Durante sua segunda viagem à terra dos faraós entre 1876 e 1877, o imperador deu uma obra sobre o Brasil e recebeu de presente do soberano egípcio um esquife lacrado. Dentro do caixão de madeira estucada e colorida, havia a múmia da cantora-sacerdotisa Sha-amun-em-su, nome que significa “os campos verdejantes de Amon”. Ela morreu aos 50 anos por volta de 750 a.C. O ataúde permaneceu no gabinete do monarca, no Paço de São Cristóvão, até 1889. Reza a lenda que ele até trocava algumas palavras com o esquife. Com a proclamação da República, a múmia foi incorporada à coleção do Museu e, desde 1892, voltou à antiga residência do imperador.
Uma passagem secreta entre o antigo Paço de São Cristóvão e o solar construído para amante de D. Pedro I faz parte do imaginário popular e de quem adora a história do caso amoroso de Domitila e Pedro I. Além de instalar a amante a poucos metros de sua residência, o monarca teria aberto um túnel que ligaria o palácio até a casa da marquesa. Verdade? Existem indícios de caminhos subterrâneos dos dois lados. A explicação mais plausível é que serviam para acessar as cozinhas, construídas em anexos para evitar incêndios.
Paço da Imperial Quinta de São Cristóvão não se chamou sempre assim. Já foi o Paço de São Cristóvão (1803-1809), o Palácio Real (1810-1821), o Palácio Imperial (1822-1889) e, a partir da instauração da República, até a atualidade, é também conhecido como Palácio de São Cristóvão. Já o museu, criado por D. João VI em 1818, foi transferido do Campo de Santana para o palácio apenas em 1892, por insistência do diretor Ladislau Netto, numa tentativa de impedir que parte do patrimônio desaparecesse. O conjunto arquitetônico só passou a ser definitivamente protegido a partir do tombamento realizado pelo Iphan, em 1938.
A exposição sobre os corais brasileiros abriu as comemorações do bicentenário do Museu Nacional. A mostra apresenta exemplares da fauna dos recifes de coral do Brasil, entre elas o esqueleto de colônia centenária do coral Mussismilia braziliensis, cuja coleta foi realizada durante expedição do naturalista canadense Charles Hartt, entre 1865 e 1876, na Bahia. Um exemplar do peixe mero (Epinephelus itajara) taxidermizado com mais de dois metros de comprimento busca chamar a atenção para as espécies ameaçadas. A mostra segue aberta ao público até maio de 2019, sempre de terça a domingo, das 10h às 16h. A entrada custa R$ 8. (grátis no segundo domingo de cada mês).
Museu Nacional
Quinta da Boa Vista, s/nº, São Cristóvão.
Terça a domingo, 10h às 16h. Até maio de 2019
Site: http://www.museunacional.ufrj.br/destaques/expedicaocoral.html
Crédito da imagem: Rogério Von Kruger