Meu avô foi um idealizador. Junto com um grupo de pessoas apaixonadas pela ilha, formaram a “Liga Artística” que teve como missão fazer de Paquetá um lugar charmoso, aprazível de se visitar. Naquela época, não havia lugares para sentar e apreciar a beleza ao redor. O conjunto de melhoramentos feitos para a ilha, como os bancos, os degraus que dão acesso ao cais, os bebedouros, as colunas que servem de suporte para bougainvilles e o caramanchão da Praia dos Tamoios, foi tombado pelo município em 1999.
É de sua autoria o projeto arquitetônico e paisagístico do Cemitério de Santo Antônio e do anexo conhecido como ‘Cemitério dos Pássaros’. Esse conjunto é especial para a memória de nossa família, onde Pedro Bruno, nascido na ilha em 1888, está enterrado. A capela, toda em pedra, é uma graça! Lá é possível ver duas reproduções de obras do pintor - "Cristo ao luar", em cima do altar da capela, e "São Francisco falando com os pássaros”. Os originais se perderam acidentalmente, com o uso de velas na capela.
Uma faceta menos conhecida de Pedro Bruno foi sua preocupação com a preservação da natureza. Era um ambientalista, coisa rara nas décadas de 1930/1940. Promovia na ilha a chamada ‘festa dos pássaros’. Todo mês de setembro, comprava aves que viviam em cativeiro, as soltava em Paquetá, e depois queimava as gaiolas. Havia também uma ‘festa das árvores’, para incentivar a conservação das espécies, bem antes do tombamento das árvores da ilha.
Pedro pintou Paquetá de todas as maneiras. A memória dos índios, as pedras da marinha e seus flamboyants – árvore que está no brasão do bairro. Destaco ainda a maternidade e o aleitamento como questões sagradas para meu avô em suas obras. Como prêmio de “Viagem a Europa” recebido com a tela “Pátria”, foi estudar na Academia Inglesa de Roma e, pouco tempo depois, foi convidado a lecionar na instituição. Desse período, trouxe peças que hoje enfeitam os jardins da casa em que residiu em Paquetá – entre elas, uma reprodução da “Vênus de Milo” que chama atenção de quem passa pela rua, mas não é obra dele e foi colocada no jardim após a morte do pintor, pois a original foi danificada.
Paquetá vive um momento cultural bacana. Há iniciativas como o “Plantar Paquetá”, que está repondo parte dos flamboyants caídos do bairro, e o cineclube do Quintal da Regina, sempre com uma programação interessante. Na Casa de Artes Paquetá, estreamos o projeto “Pedro Bruno visita a Casa de Artes”, para colocar em exposição uma tela do acervo da nossa família. A primeira é um ensaio feito para o quadro “Pátria”, que completa 100 anos em 2019. O original está exposto no salão ministerial do Museu da República, onde Getúlio despachava, e passou por um restauro recente.
Algumas peças e ambientes da Casa Pedro Bruno estão como eram antigamente: sua mesa de trabalho, as cadeiras, os móveis da sala de jantar, sua bengala, entre outros objetos. Também mantenho um catálogo dos quadros e as publicações da imprensa com referências a Pedro Bruno.
Formada em comunicação, Maria Lucia Bruno Vergani estudou na Escola Municipal Pedro Bruno em Paquetá até a 8ª série. Trabalhou em agências de publicidade no Rio e conserva o legado do seu avô, Pedro Bruno, também na internet, no site https://pintorpedrobruno.com