“Meu velho, seu Cesário Cardoso, inaugurou a casa em 1950 e faleceu em 1991, quando assumi o negócio. O Sentaí é do tempo em que a capital ainda era aqui, no Rio de Janeiro. Na região ficava o Comando do Leste e o Ministério da Guerra, então era muito frequentada por militares – vários generais, inclusive ex-presidentes, eram fregueses. Também passaram por aqui diplomatas do Itamaraty. Hoje em dia o movimento que vem do Quartel é menor, bem menor. Essa crise atrapalhou tudo. Não só os restaurantes, o comércio em geral.

O movimento caiu bastante com essa bagunça que houve aí, na Rua Senador Pompeu. Mas tenho uma aventura que eu mesmo inventei: de ir até a região portuária com carros da casa para trazer a freguesia para cá. A gente busca do Aquário e da Praça Mauá e depois leva pra lá de volta ou deixa no metrô. Essa iniciativa está me dando um retorno satisfatório. Oferecemos esse serviço de terça a domingo, só fechamos na segunda-feira. Foi o que me salvou. Se não fosse o AquaRio, já tinha fechado.

Existem garçons que estão aqui há 26 anos, 22 anos. Cozinheiros que se aposentaram com 34 anos. Ao longo do tempo, o cardápio sofreu algumas mudanças. Antigamente tínhamos pratos da culinária portuguesa como rabada, cozido e dobradinha, muito gordurosos. Com o tempo, abolimos esses pratos e passamos a trabalhar só com frutos do mar e carnes como picanha e filé mignon, que servem muito bem duas pessoas. Agora estamos mais light, com comidas que não engordam tanto, rs. Procuramos nos adequar ao que é melhor para o cliente. O carro chefe ainda é lagosta, a tradição da casa. No começo, nos anos 50, a lagosta da época eram as cavaquinhas. Hoje em dia servimos um festival de camarão com 5 pratos: camarão à paulista, risoto de camarão, moqueca de camarão, bobó de camarão e camarão com catupiry.

Estamos pagando um tributo muito alto, isolados aqui. As pessoas não vêm porque acham muito dificultoso. Quando o ex-prefeito Eduardo Paes vinha aqui, eu pedi a ele um IPTU mais brando, sabe, por aqui ser ‘área de risco’. Ele, que já me conhece há bastante tempo lá do Valqueire, disse que pra mim que ´todo o Rio de Janeiro é área de risco’, rs  Como passamos por problemas sociais, está complicado a coisa. Mas trabalhando de forma honesta, você vence. Tenho uma coisa que se chama 'trabalho sério e honesto com o cliente'. Se você não atender bem, o cliente não volta. E a nossa freguesia volta.  Acredito que o trabalho supera tudo. Estou firme, tenho saúde, não desisto não."

O empresário José Rodrigues, 70 anos, é filho do fundador do Sentaí, Cesário Cardoso e, ao lado do filho Gabriel Costa, 23 anos, mantém o negócio da família desde 1950

Restaurante Sentaí
R. Barão de São Félix, 75
Tel: (21) 2233-8358
Ter a dom, das 11h às 16h
http://www.sentai.com.br/

“O Bar Urca existe desde 1939. Foi fundado por alemães e sofreu represálias durante a 2ª Guerra Mundial, sendo reaberto só após a guerra, quando trocou de mãos para um grupo de portugueses. Em 1972, o ponto passou a ser administrado pelo meu avô, Armando Gomes. Há 15 anos, abrimos o restaurante que fica no segundo andar do prédio, que era um estoque e estava sub aproveitado.

Além de sermos donos do negócio, eu e minha família moramos na Urca. Por isso, acreditamos que prezar pelo silêncio é também prezar com a tranquilidade do local a partir de um horário. Nosso público não é da noite. É de antes da noite, até às 23h. O volume de pessoas depois desse horário não interessa. Vale mais a manutenção da tranquilidade e o respeito, do que ganhar dinheiro com mais 3/4 horas de vendas. Nossa ação de sustentabilidade é tornar o local aprazível tanto para visitante quanto para as pessoas que vivem aqui. Mantemos o local limpo, com coleta de garrafas e lixeirinhas, para que a rua fique livre de cacos de vidros. Temos duas pessoas limpando o paredão no início e no final do dia. Replantamos e cuidamos das plantinhas dos canteiros.

A Urca tem se renovado. De uns 5 anos para cá, residências foram sendo vendidas e há um fluxo de novos moradores e visitantes, muitos estrangeiros. No início, o público do bar eram as pessoas que trabalhavam na Forteleza São João. Nessa época, a comida era tradicionalmente portuguesa: bolinho de bacalhau, sardinha, moela e língua com batatas. Com o tempo, fomos incluindo outras receitas, empadas e pasteizinhos. Oferecemos pela manhã um café simples: sanduíche, pão na chapa, esfiha, joelho, e atendemos também jovens que estudam no Forte. Um de nossos clientes assíduos é o velejador Lars Grael, que reside a 2 prédios daqui.

Aqui do lado, indico a visitação do Forte de São João. Poucas pessoas o conhecem. É um lugar muito bonito onde a cidade foi fundada e possui duas praias – mas seu acesso é restrito. Também gosto de fotografia e o Ateliê da Imagem é uma escola referência para fotógrafos que fica na Urca. Oferecem cursos introdutórios até profissionalização."

Rodrigo Gomes, 39 anos, é neto do português Armando Gomes e, ao lado do irmão e do pai, Armando Neto e Armando Filho, comandam o Bar e Restaurante Urca, negócio da família desde 1972